As mulheres britânicas nunca foram tão pop. Coisa de três anos para cá, as cantoras nascidas no Reino Unido e antes reservadas apenas ao público independente têm se jogado no "mainstream" após conquistar crítica e fãs em ritmo bem acelerado.
Uma das representantes dessa nova safra, a cantora Kate Nash toca hoje no Circo Voador, no Rio, e amanhã no HSBC Brasil, em São Paulo.
Aos 23 anos, Nash tem tudo para fazer o estilo boa menina. Mas essa cantora, compositora e multi-instrumentista ruiva tem o discreto, porém marcante sarcasmo inglês correndo nas veias.
Basta conferir a letra da música "Foundations", do seu álbum de estreia, "Made of Bricks" (2007). "Você diz que eu devo chupar muitos limões, por que eu sou muito amarga. Eu disse 'Eu preferia ficar com seus amigos, por que eles são bem mais gostosos'", provoca Nash.
Em entrevista à Folha, a cantora provou que embora pareça e até seja doce vez ou outra, não é nada boba. "Eu escrevo com o coração, e não há só coisas boas lá. Tem muito sofrimento, raiva e tudo o que nós, humanos, sentimos no nosso dia-a-dia", diz.
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Cantora Kate Nash (foto) faz show no HSBC Brasil nesta sexta-feira |
Pudera. Nash ficou conhecida graças a outra cantora britânica de humor igualmente ácido, Lily Allen, que a colocou no topo de seus amigos no MySpace no auge de seu sucesso.
As duas também são parecidas em outro quesito. Enquanto Allen revolucionou o tapete vermelho usando vestidos com tênis e com alguns quilos a mais, Nash aparece quase sempre com roupas contraditórias. "Não preciso agradar ninguém", dispara.
Até mesmo o fato de ser incluída no mesmo "balaio" das novíssimas cantoras britânicas parece incomodá-la. "Não acho que faça parte de nada. Só estou fazendo música. Não quero me encaixar".
De todos os nomes citados pela reportagem, a única que ganhou um agrado foi Laura Marling. "Adorei o disco novo dela", limita-se Nash.
Personalidade forte seria um termo clichê, mas talvez o melhor para definir a cantora. Desde o começo de sua carreira, ela sabe exatamente aonde está indo e como vai chegar lá.
Não é à toa que não se sentiu confortável num primeiro momento em ter seu segundo disco produzido por Bernard Butler, ex-Suede, que já trabalhou com o (agora) desastre pop britânico Duffy --nesta semana, tabloides ingleses diziam que ela havia desistido da música após seu segundo álbum "Endlessly" ter vendido menos que o primeiro, "Rockferry".
BALAIO
Goste Kate Nash ou não, o fato é que há sim uma nova safra de cantoras britânicas. Talvez impulsionado pelo grande sucesso de Amy Winehouse na metade dos anos 2000, o pop bateu com força nessas garotas.
Entre elas, estão Adele, Florence and the Machine, Ellie Goulding, Laura Marling e, recentemente, mas correndo por fora, Jessie J, quase uma "pós-Lady Gaga".
A inspiração na soul music e no R&B é latente nessa nova geração, embora as canções venham trabalhadas com ar bem mais pop e moderno.
Os timbres de voz também são únicos. É quase uma equação em que a originalidade do timbre da voz e do modo de usá-la são proporcionais ao sucesso.
Em comum, além da nacionalidade, todas têm conquistado fãs em ritmo assombroso e troféus e indicações a prêmios do Brit Awards, Mercury Prize e Grammy.
Todos estes, como bem se sabe, foram dominados durante anos por homens e bandas "de menino", como Oasis, Verve, Coldplay, Blur e Robbie Williams, nos anos 1990, e no começo dos 2000 por bandas "indie" como Arctic Monkeys e Kaiser Chiefs.
A emotiva apresentação de Adele cantando a música "Someone Like You" no Brit Awards deste ano, ocorrido há pouco menos de duas semanas, por exemplo, já entrou para o ranking dos grandes momentos da história do prêmio. E não deve parar por aí.
KATE NASH
ONDE HSBC Brasil, r. Bragança Paulista, 1281, tel. 0/xx/11/ 2163-2120
QUANDO amanhã, às 22h
QUANTO de R$ 180 a R$ 300
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
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Adele
Perfil: Com apenas 22 anos, já é uma das grandes promessas da música pop. Seus dois álbuns, "19" e "21", cujos títulos fazem referência a sua idade na época da gravação, foram sucesso de crítica e vendas.
Ouça: "Rumour Has It", do álbum "21" (2011)
Prêmios: Ganhou o Brit Awards na escolha da crítica em 2008. No ano seguinte, venceu dois Grammy: revelação e melhor performance feminina.
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Reprodução |
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Florence and the Machine
Perfil: Impulsionada pela BBC, que a incluiu em sua lista de apostas para 2009, chegou a ser confundida com um projeto paralelo da veterana Kate Bush, tamanha a semelhança. Com forte apelo visual, influenciou muitas garotas no Reino Unido com seu estilo.
Ouça: "Rabbit Heart (Raise It Up)", do álbum "Lungs" (2009)
Prêmios: Venceu na escolha da crítica no Brit Awards em 2009. Na edição do ano passado do mesmo prêmio, levou um dos troféus de melhor álbum.
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Luke MacGregor/Reuters |
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Ellie Goulding
Perfil: Incluída na lista de apostas da BBC para 2010, tem um timbre de voz que pende muitas vezes para a dance music, o que a fez bombar nas pistas com remixes.
Ouça: "Guns and Horses", do álbum "Lights" (2010)
Prêmios: Levou o prêmio da crítica no Brit Awards em 2010.
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Daniel Deme/Efe |
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Jessie J
Perfil: Aos 22 anos, é considerada a grande aposta deste ano pela BBC e já escreveu músicas para Justin Timberlake, Alicia Keys e Christina Aguilera. Em sua recém-lançada carreira, faz a linha "Lady Gaga encontra gângsters".
Ouça: "Do It Like a Dude", do álbum "Who You Are" (2011)
Prêmios: Ganhou o Brit Awards na escolha da crítica em 2011.
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Creative Commons |
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Laura Marling
Perfil: Ganhou notoriedade ao gravar a música "Young Love" com a banda então hype Mystery Jets, em 2008. No mesmo ano, lançou o álbum "Alas, I Cannot Swim". No ano passado, seu álbum "I Speak Because I Can" mostrou mais maturidade.
Ouça: "Devil's Spoke", do álbum "I Speak Because I Can" (2010)
Prêmios: Venceu o Brit Awards de melhor cantora em 2011.
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