Dez anos da morte de Joey Ramone, 10 anos o mundo sem Joey Ramone



Dez anos. Como passa rápido.
Em janeiro de 2001, eu editava um site e estava trocando e-mails diariamente com Joey Ramone. Queria que ele escrevesse uma coluna semanal para o site.
A idéia era fazer uma coluna de tema livre. Joey poderia falar sobre o que quisesse.
Claro que a coluna acabaria sempre em música. O cara só pensava nisso.
Joey morava na rua 9, a poucos passos de St. Mark’s Place e do Bowery, no meio do burburinho alternativo de Nova York.
Era a região dos clubes– Continental, Coney Island High e, claro, o CBGB’s. No bairro havia também incontáveis lojas de disco e DVDs. Joey estava em casa.
Não era difícil encontrá-lo andando pela rua ou checando a Kim’s Video atrás de algum filme de terror bizarro. Ele fazia parte da paisagem local.
Na época, Joey já lutava contra um linfoma. Sua saúde frágil foi uma das razões para o fim dos Ramones, cinco anos antes. O cara não agüentava mais excursionar.
Depois do fim dos Ramones, ele continuou ligado à música, mas tirou o pé do acelerador. Estava cansado. Mesmo assim, fazia shows, produziu um disco de Ronnie Spector e ajudava uma banda chamada The
Independents, que adorava.
Fui visitá-lo algumas vezes em seu apartamento. Era um apê muito bem arrumado. Nem parecia que um punk morava ali. Nas paredes, uma coleção de pôsteres originais de shows do Fillmore: The Doors, Jimi Hendrix, Grateful Dead. Discos estavam sempre espalhados pela casa. Ele ouvia música o dia todo.
Joey não gostava muito de falar do passado. Preferia conversar sobre seus projetos atuais.
Mas confessou que o fim dos Ramones não tinha sido o que ele esperava.
Para quem não lembra, o último show da banda rolou em Los Angeles, em 1996.
E por que em Los Angeles, e não em Nova York? De fato, não fazia sentido a banda mais nova-iorquina do mundo encerrar a carreira do outro lado do país.
Acontece que Johnny Ramone havia se mudado para a Califórnia, e se recusava a sair de lá. Ou era lá, ou não haveria show de despedida. Joey, que sonhava com um concerto no Madison Square Garden, teve de engolir.
Não é segredo pra ninguém que Joey e Johnny não se bicavam. Eram os verdadeiros donos da banda, os dois integrantes originais que resistiram até o fim. E mal se falaram por 20 anos.
Não podia existir dois caras tão diferentes: Joey era de esquerda,  Johnny, de direita.  Joey odiava esportes, Johnny era louco pelos Yankees. Joey era mais aberto, falava com todo mundo, enquanto Johnny era caladão e na dele.
Pra piorar, a namorada de Joey o havia largado por Johnny e casado com ele.
A bem da verdade, Johnny sempre foi – pelo menos comigo – um cara 100%. Era fechadão, mas quando o papo chegava em rock dos anos 60 ou filmes de terror, se abria. Era muito fã de Zé do Caixão e tinha uma coleção gigante de filmes antigos.
O que ninguém sabia, na época, é que Johnny também batalhava um câncer de próstata, que o mataria em 2004.
Quando os Ramones acabaram, Johnny abandonou a música: vendeu suas guitarras Mosrite (dizem que para Eddie Vedder) e passou seus últimos anos no sol californiano, ao lado de amigos como John Frusciante, Lux Interior e Poison Ivy e, acredite, Lisa-Marie Presley.
Já Joey, numa manhã de janeiro, depois de uma nevasca que deixou as ruas de Nova York cobertas de gelo, correu para pegar um táxi, escorregou e tomou um tombo feio. Quebrou a bacia e foi levado para um hospital, de onde só saiu morto.
Foi homenageado com um trecho de rua batizado em seu nome. A placa – Joey Ramone Place – tem o privilégio de ser o sinal público mais roubado da história da cidade de Nova York. Tanto que a prefeitura, cansada de substituí-la, mandou colocá-la a quatro metros do chão.
“Agora, só jogadores da NBA conseguem ler a placa”, brincou Marky Ramone. Nem Joey, que media quase dois metros, conseguiria ler o próprio nome.

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